O Natal no Porto e algumas receitas

Hoje vou até aos primeiros anos do século XX, para mostrar como era a véspera de Natal no Porto e dar-vos duas receitas das minhas Avós. Ora leiam até ao fim!

O Mercado dos Anjos (que ficava perto da Torre dos Clérigos) e o Mercado do Bolhão estavam muito movimentados e cheios de aves, flores, frutas e legumes, principalmente as couves que iriam para a panela mais tarde.

Em baixo, tem as fotos dos Mercados dos Anjos e do Bolhão, respetivamente.



De Ermesinde, Mafamude, Rio Tinto, Moncorvo e de Cabeceiras de Basto vinham os vendedores de mel, na Praça de D. Pedro IV, atual Praça de Liberdade, havia uma feira onde se vendiam os melhores produtos de confeitaria popular: o pão-de-ló coberto em forma de coração, os nogados e bonecos de massa dura com formas originais e cobertos com açúcar.

As mercearias e as doçarias tinham uma grande quantidade de bolos, especialmente os enormes pães-de-ló.

Era costume os estabelecimentos oferecerem aos seus fregueses de todo o ano um queijo de dois quilos e uma garrafa de vinho fino!

As padarias fabricavam pães com cerca de um metro de comprimento para as rabanadas que, na altura, eram feitas com ovos e adoçadas com mel.

Nesse dia 24, véspera de Natal, as famílias geralmente não almoçavam, apenas lanchavam. A ceia começava entre as sete e as oito da noite só com os membros da família.

O bacalhau cozido era acompanhado pelas pencas tronchudas, batatas cozidas, ovos, cebolas e alhos. E depois vinham as aguardadas sobremesas: sonhos, fios de ovos, bonecos de massa doce, bolos de bolina, filhós, formigos de pão e mel e rabanadas, porque “são a essência da ceia de Natal”, como dizia Júlio Dinis.

Em 1918, as rabanadas eram tiras de pão embebidas em leite por um dia, fritas em azeite e que, depois de estarem douradas, colocavam-se em mel aquecido e polvilhavam-se com um pouquinho de canela.

No dia de Natal, 25 de dezembro, comia-se frango ou galo, e os doces eram os da véspera.

O que é que come na sua ceia de Natal? E no dia 25? Responda nos comentários ou nas redes sociais: Facebook e Instagram.

Esta é a receita simples e deliciosa das rabanadas na minha Avó Lila. Os mais gulosos podem duplicar ou triplicar a receita 😋

Ingredientes:

  • 1 pão cacete com 1 dia
  • 1 litro de leite
  • 3 paus de canela
  • 1 limão (usar a casca)
  • 6 ovos
  • 1 litro de óleo
  • açúcar e canela a gosto

Preparação:

  • Cortar o cacete em fatias entre 4 e 6cm de espessura.
  • Aquecer (não deixar ferver) o leite com os paus de canela e a casca do limão.
  • Aquecer bem o óleo.
  • Misturar o açúcar e a canela num prato de sopa.
  • Bater os ovos.
  • Mergulhar as fatias no leite e espremê-las levemente.
  • Passar pelos ovos e fritar em óleo.
  • Quando as rabanadas estiverem douradas, retirar do óleo e colocá-las numa travessa com papel absorvente.
  • Ainda quentes, rolar cada fatia na mistura de açúcar e canela e deixar arrefecer na travessa ou no prato de servir.

E aqui está a receita dos formigos. Ao ler a lista de ingredientes parece complicada, mas é muito fácil de fazer. E o segredo do sabor final está na qualidade do vinho do Porto, do chamado vinho fino.










Ingredientes:

  • 100g de miolo de pão branco
  • 100ml de leite magro ou meio-gordo
  • 250g de açúcar branco
  • 2 paus de canela
  • 100g de amêndoa pelada
  • 30g de passas sem grainha
  • 30g de pinhões
  • 4 gemas de ovo
  • 1 cálice de vinho do Porto
  • canela a gosto

Preparação:

  • Cobrir o pão com leite frio e deixar inchar.
  • Num tacho, colocar o açúcar com água suficiente para o tapar.
  • Deixar ferver durante cerca de 2 minutos até atingir o ponto de cabelo: a calda de açúcar atinge os 105ºC ou quando se enche a colher de calda e, ao verter, escorrem fios finos.
  • Juntar o pão espremido, os paus de canela, a amêndoa, as passas e os pinhões.
  • Mexer com a colher de pau, sempre em lume brando, até os elementos ligarem. 
  • Retirar do lume.
  • Quando estiver mais frio, juntar as gemas dissolvidas no vinho do Porto e leva-se o recipiente ao lume até levantar fervura.
  • Deitar os formigos numa travessa e polvilhar com canela.

Bibliografia:

Chaves, Luís. O Natal português. Lisboa: A.M. Teixeira &c. (filhos), 1942.

Dinis, Júlio. A Morgadinha dos Canaviais. Porto: Porto Editora, 2017.

Portela, Severo. “Rabanadas da consoada” in Terra Portuguesa, nºs 29/30: dez. 1918 e jan. 1919.

Viterbo, Sousa. “O dia de Natal” in O Tripeiro, 01/02/1919.

Livros de receitas de família.

Fotos retiradas de https://monumentosdesaparecidos.blogspot.com/

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