Dá cá um bacalhau!

No outro dia lembrei-me que há três expressões que ouço várias vezes: “ficar em águas de bacalhau” quando algo não acontece, “para quem é, bacalhau basta” quando se entende que alguma coisa é boa demais para alguém e, claro, “dá cá um bacalhau” para pedir a alguém um cumprimento com um aperto de mão.






Conhece outras expressões?

Os portugueses são povo que come mais bacalhau no mundo. São 65 mil toneladas que correspondem a 20% do bacalhau capturado! Mas chamar-lhe “peixe” não é o mais correto, porque não existe uma espécie chamada ‘bacalhau’, ou seja, damos esse nome a peixes específicos, como o Gadus morhua, o Gadus macrocephalus e o Gadus ogac depois de sofrerem um processo de salga e secagem.

E sabia que há uma cura tradicional portuguesa registada, que consiste na secagem e salga, sem produtos químicos nem conservantes, para manter todos os valores nutricionais do peixe?

Mas com tanta gente a comer bacalhau, seria de esperar haver receitas publicadas em Portugal desde cedo, mas isso só aconteceu em 1780, na obra Cozinheiro moderno ou nova arte de cozinha, do Chef Lucas Rigaud, com três opções: “Bacalhau à Provençal” (poderá ver a receita mais abaixo), “Bacalhau à Bechamel” e “Bacalhau assado nas grelhas e por outros modos” (cozido e frito, mexido com ovos, desfeito com manteiga, salsa e cebolinha que se leva a corar, e em filetes fritos).

Depois destas, apareceram mais de 1100 receitas publicadas, e outras tantas nas casas das famílias portuguesas, que utilizam o bacalhau desde a língua à cauda, incluindo a pele e o óleo de fígado, que alguns de nós ingerimos quando éramos mais novos! Como se vê, não há desperdício e, ainda, pode cozinhar-se das mais variadas maneiras: assado, grelhado, frito, guisado ou mesmo numa sopa!

Tem alguma receita de família? Partilhe-a nas nossas redes sociais ou mande-me um email.

E agora a receita de "Bacalhau à Provençal" do Chef Lucas Rigaud (1780):

“Escoa-se o bacalhau, o mais claro que se pode achar, deite-se de molho um ou dois dias, mudando-se duas ou três vezes a água, escame-se depois e ponha-se ao lume em bastante água; tanto que levantar fervura, tire-se fora, abafe-se meia hora, desfaça-se depois em bocados, tirando-se as espinhas; passe-se depois de desfeito pelo fogo com azeite e alhos picados, juntem-lhe um bocado de manteiga fresca, uma gota de água ou de leite, e mexendo-se sempre sobre a fornalha acesa até se ligar, sirva-se quente.”

Ingredientes:

  • 1 posta grande de bacalhau demolhado
  • 75ml de azeite
  • 2 dentes de alho
  • 1 colher de sopa de manteiga
  • 1 colher de café de água ou leite
  • sal a gosto

Preparação:

  • Colocar o bacalhau num tacho com água fria.
  • Quando começar a ferver, retirar da água e abafar durante 30 minutos.
  • Limpar a posta da pele e das espinhas, e desfazê-la em lascas. 
  • Noutro tacho ao lume, colocar o bacalhau com o azeite e os alhos picados.
  • Adicionar a manteiga, a água ou o leite, temperar com sal e mexer até ligar.
  • Servir quente.

Se ficou com interesse neste tema, pode consultar as referências :

Comentários

Mensagens populares deste blogue

O Trilho do Contrabando em Vilarelho da Raia - a minha experiência como contrabandista

Alho, bacalhau e vinho verde

Canja à Vila-Franquense