E que tal umas tripas à moda do Porto?
Esta receita leva vários
tipos de carne de vaca ou vitela, de porco, de galinha ou frango, enchidos,
feijão branco ou manteiga e as tripas, claro!
Não podemos pensar que a
receita das tripas terá sido criada no Porto, pois há vários locais pela
Europa, por exemplo em Espanha, França, Itália, Alemanha e Chéquia, por onde
passaram, no século I a.C., os suevos, um povo bárbaro, que incluíam as tripas
e vaca na sua dieta e que acabaram por deixar pratos muito similares às tripas
à moda do Porto.
Em Portugal, há, pelo
menos, uma história e duas lendas que estão relacionadas com este prato. A
história verdadeira remonta a 1384, quando Lisboa estava cercada por tropas
castelhanas e os portuenses enviaram uma armada de socorro com mantimentos,
tendo ficado apenas com as tripas dos animais.
A primeira lenda remete
ao Cerco do Porto feito pelas tropas miguelistas entre 1832 e 33. Durante este
tempo, para a superar a falta de alimentos que não entravam, os portuenses
tiveram de apelar à imaginação e criar pratos com o que lhes restava, incluindo
as tripas.
Joel Cleto e Germano
Silva falam na lenda mais conhecida que terá dado origem à receita das tripas,
e que remonta a 1415. Conta-se que no estaleiro de Lordelo do Ouro foi
construída uma parte da armada comandada pelo rei D. João I que iria, mais
tarde, conquistar Ceuta, que iniciou a nossa expansão marítima e colonial. Quando
as naus e as caravelas estavam prontas para navegar, era necessário carregá-las
de mantimentos, como a carne. Depois de se abaterem os animais e esquartejarem,
limparem e salgarem as carnes, os portuenses deram tudo para as embarcações,
ficando só com as tripas, as miudezas e as vísceras e foi com elas que tiveram
de inventar alternativas para comer. Dessa forma, terá surgido o prato das
“tripas à moda do Porto”, que chegou aos nossos dias e que é um símbolo da
gastronomia da cidade.
E se acreditarmos nesta
última lenda, o prato que foi um dos candidatos finalistas às 7 Maravilhas da
Gastronomia portuguesa faz, no próximo dia 14 de maio, 607 anos.
A receita das tripas foi evoluindo,
sendo o feijão acrescentado à receita só no século XVII (muito depois da
história ou das lendas escritas anteriormente), quando chegou à Europa vindo do
continente americano.
Bibliografia:
·
Carmo, Daniela. “As
tripas são símbolo da "capacidade do Porto se sacrificar pelo país".
In JPN, 14/5/2020. Disponível em https://www.jpn.up.pt/2020/05/14/as-tripas-sao-simbolo-da-capacidade-do-porto-se-sacrificar-pelo-pais/. [Consultado em 6/5/2022].
·
Cleto, Joel. “A
origem dos tripeiros”. In Lendas do
Porto: A Origem dos Tripeiros. O Tripeiro, vol. XXVII (7), Porto:
Associação Comercial, 2008, pp. 210-211.
·
Confraria
Gastronómica das Tripas à Moda do Porto. Disponível em https://www.confrariadastripas.com/. [Consultado em 6/5/2022].
·
Modesto, Maria de
Lourdes. Cozinha Tradicional Portuguesa.
Lisboa: Verbo, 1982.
E aqui fica a receita que eu faço.
Quem é que se atreve a experimentá-la? Diga-me nos comentários.
Ingredientes:
- 2kg de feijão branco ou manteiga
- 500g de tripas de vitela (sola, favos e folhos)
- 1 chispe de porco
- 1 mão de vaca
- 200g de barriga de porco
- 1/2 frango
- 2 chouriças de carne (1 de colorau e outra de vinha d’alhos)
- 2 folhas de louro
- 3 dentes de alho
- 200g de cebola
- cominhos em pó, sal e pimenta preta e branca a gosto
- 1 cenoura média
- 1 dl de azeite
- 2 colheres de sopa de banha de porco
- 3 cabeças de cravinho-da-índia
- 250g de arroz carolino.
- Colocar o chispe em sal durante 2 dias.
- Colocar o feijão de molho de um dia para o outro.
- Lavar muito bem a tripa, esfregá-la muito bem com sal grosso e colocá-la de molho em vinagre, água e limão cortado e espremido durante 1 hora.
- Lavá-la de novo em várias águas, colocá-la numa panela com água e deixar ferver.
- Retirar a água, colocar mais água quente da torneira e deixar ferver.
- Retirar a água, colocar mais água quente da torneira e deixar ferver.
- Retirar a água, colocar mais água quente da torneira.
- Entretanto, limpar a mão de vaca (rapar também os pelos) e parti-la em pedaços com o cutelo.
- Juntá-la e à galinha à panela das tripas.
- Temperar com sal e 2 colheres de chá de cominhos.
- Deixar ferver até cozer a galinha, retirá-la e esfiá-la.
- Continuar a cozer as tripas e a mão de vaca, retirá-las da panela e reservar a água.
- Cortar as tripas em pedaços.
- Limpar o chispe e parti-lo em pedaços com o cutelo.
- Cozer o chispe sozinho numa panela em água temperada com sal. Quando estiver pronto, guardar a água da cozedura.
- Cozer o feijão em água com sal. Quando estiver pronto, escorrer e guardar a água da cozedura.
- Picar as cebolas e o alho.
- Cortar a cenoura e as chouriças às rodelas.
- Cortar a barriga de porco às tirinhas.
- Levar ao lume o azeite, a banha de porco e juntar os alhos e a cebola, deixando alourar ligeiramente.
- Juntar a cenoura, a chouriça e a barriga de porco.
- Estufar um pouco e adicionar as tripas, o chispe e a mão de vitela.
- Deixar estufar mais um bocado e adicionar um pouco de água da cozedura das tripas, das outras carnes e do feijão.
- Temperar com 1 colher de sobremesa de cominhos em pó, sal, pimenta preta e branca e os cravinhos-da-índia e deixar estufar mais um pouco.
- Por fim, juntar o feijão cozido, mais um pouco de água da sua cozedura e das carnes e deixar apurar em lume brando, mexendo de vez em quando.
- O caldo deve ficar espesso e gelatinoso por causa da água onde cozeu a mão de vaca.
- Lavar bem o arroz carolino, tirando-lhe a goma, e cozê-lo em água com sal.
- Desfiar a galinha.
- No momento de servir, polvilhar as tripas com um pouco de cominhos em pó
- Servir este prato bem quente, acompanhado do arroz.
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